Fundador: Padre Domingos de Sousa - Director: Padre Jorge Carvalhal - Propriedade: Fábrica da Igreja de Canas de Senhorim

segunda-feira, 22 de abril de 2013

Entrevista a Hélder Ambrósio Presidente de Direcção da AHBVCS



Hélder Ambrósio assumiu a presidência da Associação Humanitária dos Bombeiros Voluntários de Canas de Senhorim depois de ter sido durante 5 anos Presidente da Assembleia Geral e Tesoureiro quanto tinha 23 anos. Aliás, um homem dedicado á causa comunitária pois, para além deste cargo, foi um dos fundadores da Mega Radio e da União Cultural e Recreativa do Rossio, colaborador durante 8 anos no Jornal de Canas de Senhorim, na Lusa e no JN (num tempo muito curto). No campo desportivo foi Tesoureiro do GDR Canas de Senhorim. Desde 1994 é Diretor do Centro Social e Paroquial de Canas de Senhorim e desde 1998 Secretário do Conselho Paroquial para os Assuntos Económicos. Com a ajuda dos meus colegas na elaboração das questões fui ouvir este homem “dos sete ofícios” quando se trata de trabalho comunitário e em prol da sociedade civil sobre estas novas funções para que foi eleito:


Fernando Neto – Amigo Hélder, quais são as principais prioridades do plano de acção para o mandato que agora começam?

Hélder Ambrósio – Em primeiro lugar queremos agradecer a preocupação que o jornal “Canas de Senhorim” tem tido na divulgação dos assuntos dos nossos Bombeiros. Sublinho “queremos” porque todas as decisões têm sido tomadas em reunião de Direcção. Se num ou noutro assunto as coisas não correm tão bem quanto o desejado, a responsabilidade é de todos. Assim como é de todos os resultados positivos que se têm obtido nos processos que vão decorrendo. Desta forma de pensar e de agir temos colocado à disposição, sem qualquer reserva, toda a informação ao Sr. Comandante, que está sempre presente nas reuniões de Direcção, intervindo de uma forma activa e interessante e colocando as questões que vão surgindo e os projectos que vale a pena levar a efeito para o engrandecimento da nossa Associação. Só teremos êxito se trabalharmos em equipa, com entusiasmo e sentido de missão. Desde 17 de Dezembro até hoje temos tentado colocar na nossa agenda um bom ritmo de trabalho. Já reunimos duas vezes com a Câmara Municipal de Nelas. Além da nossa apresentação, levámos a intenção de promover algumas acções que vão ao encontro do bem-estar das populações da nossa área de intervenção, abordámos o apoio que a autarquia poderia reforçar nos serviços de urgência, na reabertura da biblioteca e analisámos, já nessa altura, os problemas que a Associação estava a ter com o atraso do pagamento da comparticipação da autarquia para as obras de ampliação do quartel. Uma outra reunião obtida com resultados extremamente positivos foi a realizada com o Sr. Dr. Carlos da Cunha Torres, da Fundação Lapa do Lobo. Esta prestigiada Fundação, neste mar de crise, vai manter o seu apoio aos nossos Bombeiros, dando-nos dessa forma um pouco de alento para ultrapassarmos as nossas dificuldades financeiras. Por outro lado, já reunimos com as Juntas de Freguesia de Canas de Senhorim, Aguieira, Lapa do Lobo e Santar. Aguardamos reuniões com as Juntas de Carvalhal Redondo e de Moreira. O propósito destas reuniões é ir ao encontro das preocupações dos autarcas em termos da prevenção dos fogos florestais, indicando os caminhos que necessitam de alguma intervenção para a passagem das viaturas de combate a incêndio. Uma outra vertente interessante é promover acções de sensibilização para a causa do voluntariado e dar a conhecer a forma mais rápida para que o socorro chegue ao sinistrado. Em análise desta Direcção estão os protocolos que vão ser celebrados com o GDR e o Agrupamento de Escolas de Canas de Senhorim. Como já verificou as nossas atenções e as nossas prioridades têm sido direccionadas para a nossa principal missão que é a protecção da vida e dos haveres das pessoas e, logicamente, para estarmos sempre no nosso melhor. Os equipamentos são sempre uma preocupação constante. Falando de equipamento, permita-me referenciar, entre outros, o processo de aquisição do VUCI (veículo urbano combate a incêndios), até porque vai ser uma mais valia para todo o concelho no combate aos incêndios urbanos e industriais. Depois da candidatura feita e aprovada na anterior Direcção, onde teve uma acção charneira o Dr. Alexandre Borges, à semelhança da candidatura para a requalificação do nosso quartel sede, a entrega da viatura teve um significativo atraso motivado por uma série de razões, uma das quais foi o grande volume de candidaturas efectuadas através do QREN e respectivas adjudicações. Feita essa travessia no tempo, finalmente a viatura, no momento em que estou a responder às suas questões, vai ser entregue brevemente. Deixe-me segredar que já nos deu muita preocupação.
Quando entrevistarem o nosso Comandante João Rodrigues, ele dar-vos-á a conhecer, com mais pormenor, outras acções que a Associação quer levar a efeito, sendo a formação uma tónica importante. Deixe-nos apenas acrescentar que vivemos numa época de extrema dificuldade financeira, onde as nossas famílias e as nossas empresas atravessam um momento muito difícil da nossa história e por isso, muitas das vezes, os objectivos que parecem à partida fáceis de atingir, tornam-se muitas vezes difíceis de ultrapassar e, por isso, preferimos anunciar as coisas depois de se tornarem realidade ou de se consolidarem. Acima de tudo queremos que a nossa Associação continue a ser um baluarte na defesa das vidas e dos haveres das nossas populações, mas para isso também gostaríamos de sentir o seu apoio.


Fernando Neto – Que informação pode transmitir aos sócios sobre a situação financeira da colectividade em resultado das obras de ampliação do quartel?

Hélder Ambrósio – No momento que estou a responder às vossas questões, as Contas do Exercício do ano de 2012 ainda não foram aprovadas em Assembleia Geral, convocada pelo Senhor Presidente da Assembleia para o dia 28 do corrente mês; no entanto, podemos adiantar algumas notas importantes para conhecimento dos sócios e da comunidade. O processo de requalificação do nosso quartel sede encontra-se praticamente concluído e o conforto e a operacionalidade são as duas características que mais ressaltam à nossa vista. Foi um processo que necessitou de muito empenho, iniciado pela Direcção presidida pelo Sr. Dr. Américo Borges, continuado pela Direcção presidida pelo Sr. Fernando Pinto. Financeiramente, esta requalificação só foi possível graças à possibilidade de candidatarmos esta operação a financiamento comunitário, através do QREN. Esse financiamento, enquadrou-se num dos domínios do Eixo II do Programa Operacional de Valorização do Território, a Prevenção e Gestão de Riscos. No entanto, estas operações não são financiadas a 100%, sendo que a parte não financiada (contrapartida nacional) foi assegurada pela Câmara Municipal de Nelas. Como a autarquia não conseguiu cumprir com a sua responsabilidade financeira houve a necessidade de recorrer a um empréstimo bancário para que a obra evoluísse normalmente e que os compromissos assumidos com o empreiteiro fossem cumpridos. Claro que foram tempos difíceis e continuam a sê-lo, porque os Bombeiros estavam a contar e continuam a contar com a ajuda da Câmara. Com a obra paga e o empréstimo saldado a liquidez financeira da instituição desapareceu, porque todas as poupanças tiveram que ser utilizadas na obra. Esta terrível falta de dinheiro vivo não nos permite apostar na melhoria ou aquisição de novos equipamentos, quer para as novas instalações, quer para reforço operacional dos nossos bombeiros e, por isso, tivemos que recorrer novamente ao empréstimo bancário para cumprirmos com o compromisso que assumimos na candidatura para o VUCI. A Assembleia Geral Extraordinária realizada no passado dia quinze aprovou por unanimidade a autorização para movimentarmos a conta caucionada do empréstimo contraído no Crédito Agrícola, suportado pela hipoteca da Casa do Rossio, antigo posto da GNR. Os sócios presentes perceberam perfeitamente que a situação se deve à falta de pagamento da autarquia. Sabemos que esta dívida está inscrita no PAEL (Programa de Apoio à Economia Local) e esperamos que este problema se resolva o mais rápido possível.

Fernando Neto – A contribuição do estado e/ou poder local é suficiente para fazer face às necessidades com que a Associação se debate?

Hélder Ambrósio – As receitas estabelecidas pelos organismos que nos superintendem estão estabelecidas por decreto lei e são iguais para todos. Relativamente ao poder local julgo e tenho conhecimento de que há autarquias que dão muito valor aos bombeiros e que há outras que vão atribuindo valores simbólicos. Qualquer Associação Humanitária tem sempre muitas dificuldades financeiras porque também tem muitas despesas. Numa Associação desta natureza os apoios nunca se revelam suficientes para as nossas pretensões. Há sempre mais alguma coisa que podíamos fazer e que não se faz porque não é financeiramente possível. De vez em quando surgem oportunidades que não devemos desperdiçar, como foi o caso das candidaturas que se efectuaram para requalificar o quartel e adquirir a viatura, mas, mesmo essas, requerem algum esforço financeiro da nossa parte, uma vez que a taxa de financiamento não é 100%. De uma coisa temos a certeza: quanto melhores forem as condições que proporcionarmos aos voluntários que abdicam da sua vida pessoal em prol da comunidade, melhor servida estará essa comunidade. Penso que deveria ser esse o princípio dos nossos governantes.


Fernando Neto – Como pretendem conciliar a atividade de socorro e assistência humanitária, com a atividade cultural que tem sido desenvolvida pela Associação e que iniciativas pretendem levar a cabo que correspondam a esse desígnio?

Hélder Ambrósio – A Associação não tem que se preocupar com a actividade cultural porque ela não é a sua principal actividade. Poderá existir, mas, para isso, é necessário criar um grupo de trabalho no sentido de vir ajudar financeiramente a Instituição. A defesa dos haveres e da vida das pessoas já nos acarreta muitas responsabilidades e muito trabalho.


Fernando Neto – No seu discurso aquando do 82º aniversário da Associação referiu a dada altura ” é preciso continuar a trabalhar para melhorarmos as condições dos nossos bombeiros, continuar a apostar na sua formação e aproveitar os recursos humanos e técnicos que possuímos.”. Quer especificar esta ambição aos nossos leitores?


Hélder Ambrósio – Qualquer Direcção deve ir ao encontro das necessidades do Corpo Activo. Neste momento temos a noção de que as instalações precisam de ter uma temperatura ambiente melhorada e que há sempre a necessidade de melhorar os equipamentos/ferramentas de trabalho dos nossos homens, mas para isso precisamos primeiro de receber a verba da Câmara Municipal de Nelas, respeitante às obras. Todos os nossos Bombeiros têm conhecimento da situação e aguardam também uma solução rápida da autarquia. A outra vertente: formação. Estamos a trabalhar afincadamente com o Comando para que a formação seja uma constante e uma mais-valia para a nossa Associação. É uma matéria que o nosso Comandante vai desenvolver quando for entrevistado. Espero que o dinheiro nunca falte para dinamizarmos a Instituição no sentido de a consolidarmos como uma das melhores do distrito de Viseu. A massa humana existe e iremos promover iniciativas para imbuir mais jovens para a causa do voluntariado, jovens que com a sua capacidade intelectual tragam massa critica para a Associação e tragam novas funcionalidades.

Fernando Neto – As obras estão (praticamente) concluídas, vem aí uma nova viatura de combate a incêndios urbanos e industriais. Mesmo comparticipadas pelo QREN em 85%, exigirá um grande esforço financeiro e sabe-se que ainda há muito pouco conseguiram “livrar-se” do saldo a descoberto que utilizaram para as obras. Que atividades pretendem levar a cabo no sentido de obter verbas para fazer face a tamanhos encargos, tanto mais que é necessário manter uma estrutura profissional para fazer face a qualquer emergência e uma das fontes de receita das Associações - o transporte de doentes - segundo a maioria,  tem vindo a diminuir drasticamente?

Hélder Ambrósio – Relativamente ao processo de requalificação do nosso quartel, como já foi referido anteriormente, a Câmara Municipal de Nelas assumiu o montante necessário, assim como os juros relacionados com o empréstimo. Em relação ao VUCI e para fazer face de imediato aos nossos compromissos, foi aprovado em Assembleia Geral Extraordinária autorizar a utilização do empréstimo bancário, sendo que temos a promessa do pagamento dos juros por parte da autarquia. Esperamos receber esse dinheiro o mais rápido possível. Neste momento ainda não programámos qualquer actividade porque fomos apanhados neste mar de incertezas institucionais e, depois, o momento político, social e económico do país também não ajuda nada, pelo contrário. Naturalmente, vamos ter que desenvolver algumas actividades.

Fernando Neto – Como se encontra neste momento a divida da C. M. Nelas? Os protocolos têm vindo a ser cumpridos ou foi só assinatura de papéis?


Hélder Ambrósio – A Câmara Municipal de Nelas, como já foi dito, deve uma grande fatia da verba que se disponibilizou pagar para as obras de ampliação do quartel.
Como já referimos, aguardamos que esta situação se resolva o mais rapidamente possível. Era para ter sido em Dezembro, mas nesse mês o dinheiro destinado aos nossos Bombeiros não entrou nos cofres da autarquia. Já vamos em meados de Março e ainda não há luz ao fundo do túnel. Para além desta questão do financiamento da obra, que é importante, e que nos preocupa imenso, a colaboração e o relacionamento com a autarquia tem sido cordial. Neste momento, e directamente relacionado com o quotidiano da Associação, a autarquia assegura um funcionário e disponibiliza uma verba mensal (400,00€) para ajudar nas despesas inerentes ao serviço prestado, quer na emergência médica, quer no apoio à protecção civil. De uma forma mais indirecta e com benefícios para os associados, a autarquia protocolou com a Associação a possibilidade de os nossos sócios poderem utilizar com descontos alguns serviços disponibilizados pela autarquia (piscina, espaço internet, cinema, etc.)

Fernando Neto – Vamos entrar em ano eleitoral. Falando com franqueza, o que espera a AHBVCS dos novos poderes autárquicos?

Helder Ambrósio -Não vai haver novos poderes autárquicos, o que vai haver são eleições e de novo a possibilidade de escolher um executivo camarário. A Direcção dos Bombeiros já reuniu com a Câmara Municipal fazendo sentir quais são as nossas dificuldades. Seja qual for a equipa que ganhe as eleições autárquicas, recomendamos que tenha em linha de conta, nas suas Grandes Opções do Plano, verbas à altura para o papel que os soldados da paz têm na sociedade e que vão de encontro às necessidades e aos projectos que os Bombeiros têm possibilidade de concretizar.

Fernando Neto – Qual é atualmente o número de sócios pagantes da Associação?

Hélder Ambrósio – Nesta data a Associação tem 1385 sócios. Permita-me um reparo. Se os sócios não pagam quotas, não são sócios. Há muitos canenses que não são sócios, mas tenho confiança que poderemos aumentar esse número com um trabalho de sensibilização, não só na nossa freguesia, mas, também, nas outras cinco freguesias que pertencem à área da nossa actuação. É nesse trabalho que poderemos explicar que, por exemplo, o preço por quilómetro num serviço de ambulância para um sócio é bem diferente do do não sócio, bem como outras regalias que provêm de protocolos estabelecidos entre a Associação e algumas entidades locais. Contamos fazer a divulgação destes protocolos brevemente, e contamos com a colaboração do jornal para esse efeito.

Fernando Neto – “A nossa biblioteca tem que abrir as portas. Como não é possível arranjar verbas, mais uma vez, o voluntariado vai ter um papel importante. Os livros não podem continuar fechados.” Palavras suas, amigo Hélder. Para quando a reabertura da Biblioteca José Adelino ao público?

Hélder Ambrósio – Mantenho a afirmação de que os livros não podem ficar fechados, até porque estão a danificar-se. Há tempos, quando vi um documentário sobre a Biblioteca Joanina da Universidade de Coimbra, o ilustre orador, um conhecido Físico, Carlos Fiolhais, dizia que um célebre escritor tinha dito que o espaço mais livre que ele tinha vivido foi quando esteve preso, porque descobriu muitos livros e que o livro é um acesso à liberdade. Se a Associação tivesse liquidez financeira ou se houvesse um bom patrocinador era fácil abrir a Biblioteca. De qualquer forma, continua a ser um objectivo nosso abrir aquele espaço, mas não o podemos fazer sem o mínimo de qualidade e sem termos uma estrutura de voluntários que nos permitam preservá-lo. É um assunto que já foi muitas vezes à reunião de Direcção, mas sem resultados ainda positivos, porque tem havido avanços e recuos nos contactos que temos feito. Roma e Pavia não se fizeram num dia, como diz o povo, e por isso não podemos desistir deste nosso objectivo que é disponibilizar a Biblioteca aos leitores e à comunidade.

©Fernando Neto

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