Hélder Ambrósio assumiu a
presidência da Associação Humanitária dos Bombeiros Voluntários de Canas de
Senhorim depois de ter sido durante 5 anos Presidente da Assembleia Geral e
Tesoureiro quanto tinha 23 anos. Aliás, um homem dedicado á causa comunitária
pois, para além deste cargo, foi um dos fundadores da Mega Radio e da União
Cultural e Recreativa do Rossio, colaborador durante 8 anos no Jornal de Canas
de Senhorim, na Lusa e no JN (num tempo muito curto). No campo desportivo foi
Tesoureiro do GDR Canas de Senhorim. Desde 1994 é Diretor do Centro Social e
Paroquial de Canas de Senhorim e desde 1998 Secretário do Conselho Paroquial
para os Assuntos Económicos. Com a ajuda dos meus colegas na elaboração das
questões fui ouvir este homem “dos sete ofícios” quando se trata de trabalho
comunitário e em prol da sociedade civil sobre estas novas funções para que foi
eleito:
Fernando Neto – Amigo Hélder,
quais são as principais prioridades do plano de acção para o mandato que agora
começam?
Hélder Ambrósio – Em primeiro lugar queremos agradecer a
preocupação que o jornal “Canas de Senhorim” tem tido na divulgação dos
assuntos dos nossos Bombeiros. Sublinho “queremos” porque todas as decisões têm
sido tomadas em reunião de Direcção. Se num ou noutro assunto as coisas não
correm tão bem quanto o desejado, a responsabilidade é de todos. Assim como é
de todos os resultados positivos que se têm obtido nos processos que vão
decorrendo. Desta forma de pensar e de agir temos colocado à disposição, sem
qualquer reserva, toda a informação ao Sr. Comandante, que está sempre presente
nas reuniões de Direcção, intervindo de uma forma activa e interessante e
colocando as questões que vão surgindo e os projectos que vale a pena levar a
efeito para o engrandecimento da nossa Associação. Só teremos êxito se
trabalharmos em equipa, com entusiasmo e sentido de missão. Desde 17 de
Dezembro até hoje temos tentado colocar na nossa agenda um bom ritmo de
trabalho. Já reunimos duas vezes com a Câmara Municipal de Nelas. Além da nossa
apresentação, levámos a intenção de promover algumas acções que vão ao encontro
do bem-estar das populações da nossa área de intervenção, abordámos o apoio que
a autarquia poderia reforçar nos serviços de urgência, na reabertura da
biblioteca e analisámos, já nessa altura, os problemas que a Associação estava
a ter com o atraso do pagamento da comparticipação da autarquia para as obras
de ampliação do quartel. Uma outra reunião obtida com resultados extremamente
positivos foi a realizada com o Sr. Dr. Carlos da Cunha Torres, da Fundação
Lapa do Lobo. Esta prestigiada Fundação, neste mar de crise, vai manter o seu
apoio aos nossos Bombeiros, dando-nos dessa forma um pouco de alento para
ultrapassarmos as nossas dificuldades financeiras. Por outro lado, já reunimos
com as Juntas de Freguesia de Canas de Senhorim, Aguieira, Lapa do Lobo e
Santar. Aguardamos reuniões com as Juntas de Carvalhal Redondo e de Moreira. O
propósito destas reuniões é ir ao encontro das preocupações dos autarcas em
termos da prevenção dos fogos florestais, indicando os caminhos que necessitam
de alguma intervenção para a passagem das viaturas de combate a incêndio. Uma
outra vertente interessante é promover acções de sensibilização
para a causa do voluntariado e dar a conhecer a forma mais rápida para que o
socorro chegue ao sinistrado. Em análise desta Direcção estão os protocolos que
vão ser celebrados com o GDR e o Agrupamento de Escolas de Canas de Senhorim. Como
já verificou as nossas atenções e as nossas prioridades têm sido direccionadas
para a nossa principal missão que é a protecção da vida e dos haveres das
pessoas e, logicamente, para estarmos sempre no nosso melhor. Os equipamentos
são sempre uma preocupação constante. Falando de equipamento, permita-me
referenciar, entre outros, o processo de aquisição do VUCI (veículo urbano
combate a incêndios), até porque vai ser uma mais valia para todo o concelho no
combate aos incêndios urbanos e industriais. Depois da candidatura feita e
aprovada na anterior Direcção, onde teve uma acção charneira o Dr. Alexandre
Borges, à semelhança da candidatura para a requalificação do nosso quartel
sede, a entrega da viatura teve um significativo atraso motivado por uma série
de razões, uma das quais foi o grande volume de candidaturas efectuadas através
do QREN e respectivas adjudicações. Feita essa travessia no tempo, finalmente a
viatura, no momento em que estou a responder às suas questões, vai ser entregue
brevemente. Deixe-me segredar que já nos deu muita preocupação.
Quando entrevistarem o nosso Comandante João Rodrigues, ele dar-vos-á
a conhecer, com mais pormenor, outras acções que a Associação quer levar a
efeito, sendo a formação uma tónica importante. Deixe-nos apenas acrescentar
que vivemos numa época de extrema dificuldade financeira, onde as nossas
famílias e as nossas empresas atravessam um momento muito difícil da nossa
história e por isso, muitas das vezes, os objectivos que parecem à partida fáceis
de atingir, tornam-se muitas vezes difíceis de ultrapassar e, por isso, preferimos
anunciar as coisas depois de se tornarem realidade ou de se consolidarem. Acima
de tudo queremos que a nossa Associação continue a ser um baluarte na defesa
das vidas e dos haveres das nossas populações, mas para isso também gostaríamos
de sentir o seu apoio.
Fernando Neto – Que informação
pode transmitir aos sócios sobre a situação financeira da colectividade em
resultado das obras de ampliação do quartel?
Hélder Ambrósio – No momento que estou a responder às vossas
questões, as Contas do Exercício do ano de 2012 ainda não foram aprovadas em
Assembleia Geral, convocada pelo Senhor Presidente da Assembleia para o dia 28
do corrente mês; no entanto, podemos adiantar algumas notas importantes para
conhecimento dos sócios e da comunidade. O processo de requalificação do nosso
quartel sede encontra-se praticamente concluído e o conforto e a
operacionalidade são as duas características que mais ressaltam à nossa vista.
Foi um processo que necessitou de muito empenho, iniciado pela Direcção
presidida pelo Sr. Dr. Américo Borges, continuado pela Direcção presidida pelo
Sr. Fernando Pinto. Financeiramente, esta requalificação só foi possível graças
à possibilidade de candidatarmos esta operação a financiamento comunitário,
através do QREN. Esse financiamento, enquadrou-se num dos domínios do Eixo II
do Programa Operacional de Valorização do Território, a Prevenção e Gestão de
Riscos. No entanto, estas operações não são financiadas a 100%, sendo que a
parte não financiada (contrapartida nacional) foi assegurada pela Câmara
Municipal de Nelas. Como a autarquia não conseguiu cumprir com a sua
responsabilidade financeira houve a necessidade de recorrer a um empréstimo
bancário para que a obra evoluísse normalmente e que os compromissos assumidos
com o empreiteiro fossem cumpridos. Claro que foram tempos difíceis e continuam
a sê-lo, porque os Bombeiros estavam a contar e continuam a contar com a ajuda
da Câmara. Com a obra paga e o empréstimo saldado a liquidez financeira da
instituição desapareceu, porque todas as poupanças tiveram que ser utilizadas
na obra. Esta terrível falta de dinheiro vivo não nos permite apostar na
melhoria ou aquisição de novos equipamentos, quer para as novas instalações,
quer para reforço operacional dos nossos bombeiros e, por isso, tivemos que
recorrer novamente ao empréstimo bancário para cumprirmos com o compromisso que
assumimos na candidatura para o VUCI. A Assembleia Geral Extraordinária realizada
no passado dia quinze aprovou por unanimidade a autorização para movimentarmos
a conta caucionada do empréstimo contraído no Crédito Agrícola, suportado pela
hipoteca da Casa do Rossio, antigo posto da GNR. Os sócios presentes perceberam
perfeitamente que a situação se deve à falta de pagamento da autarquia. Sabemos
que esta dívida está inscrita no PAEL (Programa de Apoio à Economia Local) e esperamos
que este problema se resolva o mais rápido possível.
Fernando Neto – A contribuição do
estado e/ou poder local é suficiente para fazer face às necessidades com que a
Associação se debate?
Hélder Ambrósio – As receitas estabelecidas pelos organismos
que nos superintendem estão estabelecidas por decreto lei e são iguais para
todos. Relativamente ao poder local julgo e tenho conhecimento de que há
autarquias que dão muito valor aos bombeiros e que há outras que vão atribuindo
valores simbólicos. Qualquer Associação Humanitária tem sempre muitas
dificuldades financeiras porque também tem muitas despesas. Numa Associação desta natureza os apoios nunca se revelam
suficientes para as nossas pretensões. Há sempre mais alguma coisa que podíamos
fazer e que não se faz porque não é financeiramente possível. De vez em quando
surgem oportunidades que não devemos desperdiçar, como foi o caso das
candidaturas que se efectuaram para requalificar o quartel e adquirir a
viatura, mas, mesmo essas, requerem algum esforço financeiro da nossa parte,
uma vez que a taxa de financiamento não é 100%. De uma coisa temos a certeza: quanto
melhores forem as condições que proporcionarmos aos voluntários que abdicam da
sua vida pessoal em prol da comunidade, melhor servida estará essa comunidade.
Penso que deveria ser esse o princípio dos nossos governantes.
Fernando Neto – Como pretendem
conciliar a atividade de socorro e assistência humanitária, com a atividade
cultural que tem sido desenvolvida pela Associação e que iniciativas pretendem
levar a cabo que correspondam a esse desígnio?
Hélder Ambrósio – A Associação não tem que se preocupar com
a actividade cultural porque ela não é a sua principal actividade. Poderá
existir, mas, para isso, é necessário criar um grupo de trabalho no sentido de
vir ajudar financeiramente a Instituição. A defesa dos haveres e da vida das
pessoas já nos acarreta muitas responsabilidades e muito trabalho.
Fernando Neto – No seu discurso
aquando do 82º aniversário da Associação referiu a dada altura ” é preciso continuar a trabalhar para
melhorarmos as condições dos nossos bombeiros, continuar a apostar na sua
formação e aproveitar os recursos humanos e técnicos que possuímos.”. Quer
especificar esta ambição aos nossos leitores?
Hélder Ambrósio – Qualquer Direcção deve ir ao encontro das
necessidades do Corpo Activo. Neste momento temos a noção de que as instalações
precisam de ter uma temperatura ambiente melhorada e que há sempre a
necessidade de melhorar os equipamentos/ferramentas de trabalho dos nossos
homens, mas para isso precisamos primeiro de receber a verba da Câmara
Municipal de Nelas, respeitante às obras. Todos os nossos Bombeiros têm
conhecimento da situação e aguardam também uma solução rápida da autarquia. A
outra vertente: formação. Estamos a trabalhar afincadamente com o Comando para
que a formação seja uma constante e uma mais-valia para a nossa Associação. É
uma matéria que o nosso Comandante vai desenvolver quando for entrevistado.
Espero que o dinheiro nunca falte para dinamizarmos a Instituição no sentido de
a consolidarmos como uma das melhores do distrito de Viseu. A massa humana
existe e iremos promover iniciativas para imbuir mais jovens para a causa do
voluntariado, jovens que com a sua capacidade intelectual tragam massa critica
para a Associação e tragam novas funcionalidades.
Fernando Neto – As obras estão
(praticamente) concluídas, vem aí uma nova viatura de combate a incêndios
urbanos e industriais. Mesmo comparticipadas pelo QREN em 85%, exigirá um
grande esforço financeiro e sabe-se que ainda há muito pouco conseguiram
“livrar-se” do saldo a descoberto que utilizaram para as obras. Que atividades
pretendem levar a cabo no sentido de obter verbas para fazer face a tamanhos
encargos, tanto mais que é necessário manter uma estrutura profissional para
fazer face a qualquer emergência e uma das fontes de receita das Associações - o
transporte de doentes - segundo a maioria,
tem vindo a diminuir drasticamente?
Hélder Ambrósio – Relativamente ao processo de requalificação
do nosso quartel, como já foi referido anteriormente, a Câmara Municipal de
Nelas assumiu o montante necessário, assim como os juros relacionados com o
empréstimo. Em relação ao VUCI e para fazer face de imediato aos nossos
compromissos, foi aprovado em Assembleia Geral Extraordinária autorizar a
utilização do empréstimo bancário, sendo que temos a promessa do pagamento dos
juros por parte da autarquia. Esperamos receber esse dinheiro o mais rápido
possível. Neste momento ainda não programámos qualquer actividade porque fomos
apanhados neste mar de incertezas institucionais e, depois, o momento político,
social e económico do país também não ajuda nada, pelo contrário. Naturalmente,
vamos ter que desenvolver algumas actividades.
Fernando Neto – Como se encontra
neste momento a divida da C. M. Nelas? Os protocolos têm vindo a ser cumpridos
ou foi só assinatura de papéis?
Hélder Ambrósio – A Câmara Municipal de Nelas, como já foi dito,
deve uma grande fatia da verba que se disponibilizou pagar para as obras de
ampliação do quartel.
Como já referimos, aguardamos que esta situação se resolva o
mais rapidamente possível. Era para ter sido em Dezembro, mas nesse mês o
dinheiro destinado aos nossos Bombeiros não entrou nos cofres da autarquia. Já
vamos em meados de Março e ainda não há luz ao fundo do túnel. Para além desta
questão do financiamento da obra, que é importante, e que nos preocupa imenso, a
colaboração e o relacionamento com a autarquia tem sido cordial. Neste momento,
e directamente relacionado com o quotidiano da Associação, a autarquia assegura
um funcionário e disponibiliza uma verba mensal (400,00€) para ajudar nas
despesas inerentes ao serviço prestado, quer na emergência médica, quer no
apoio à protecção civil. De uma forma mais indirecta e com benefícios para os
associados, a autarquia protocolou com a Associação a possibilidade de os
nossos sócios poderem utilizar com descontos alguns serviços disponibilizados
pela autarquia (piscina, espaço internet, cinema, etc.)
Fernando Neto – Vamos entrar em ano
eleitoral. Falando com franqueza, o que espera a AHBVCS dos novos poderes
autárquicos?
Helder Ambrósio -Não vai haver novos poderes autárquicos, o
que vai haver são eleições e de novo a possibilidade de escolher um executivo
camarário. A Direcção dos Bombeiros já reuniu com a Câmara Municipal fazendo
sentir quais são as nossas dificuldades. Seja qual for a equipa que ganhe as
eleições autárquicas, recomendamos que tenha em linha de conta, nas suas
Grandes Opções do Plano, verbas à altura para o papel que os soldados da paz
têm na sociedade e que vão de encontro às necessidades e aos projectos que os
Bombeiros têm possibilidade de concretizar.
Fernando Neto – Qual é atualmente o
número de sócios pagantes da Associação?
Hélder Ambrósio – Nesta data a Associação tem 1385 sócios.
Permita-me um reparo. Se os sócios não pagam quotas, não são sócios. Há muitos
canenses que não são sócios, mas tenho confiança que poderemos aumentar esse
número com um trabalho de sensibilização, não só na nossa freguesia, mas,
também, nas outras cinco freguesias que pertencem à área da nossa actuação. É
nesse trabalho que poderemos explicar que, por exemplo, o preço por quilómetro num
serviço de ambulância para um sócio é bem diferente do do não sócio, bem como
outras regalias que provêm de protocolos estabelecidos entre a Associação e
algumas entidades locais. Contamos fazer a divulgação destes protocolos
brevemente, e contamos com a colaboração do jornal para esse efeito.
Fernando Neto – “A nossa biblioteca tem que abrir as portas. Como não é possível
arranjar verbas, mais uma vez, o voluntariado vai ter um papel importante. Os
livros não podem continuar fechados.” Palavras suas, amigo Hélder. Para
quando a reabertura da Biblioteca José Adelino ao público?
Hélder Ambrósio – Mantenho a afirmação de que os livros não
podem ficar fechados, até porque estão a danificar-se. Há tempos, quando vi um
documentário sobre a Biblioteca Joanina da Universidade de Coimbra, o ilustre
orador, um conhecido Físico, Carlos Fiolhais, dizia que um célebre escritor
tinha dito que o espaço mais livre que ele
tinha vivido foi quando esteve preso, porque descobriu muitos livros e que o
livro é um acesso à liberdade. Se a Associação tivesse liquidez financeira
ou se houvesse um bom patrocinador era fácil abrir a Biblioteca. De qualquer
forma, continua a ser um objectivo nosso abrir aquele espaço, mas não o podemos
fazer sem o mínimo de qualidade e sem termos uma estrutura de voluntários que
nos permitam preservá-lo. É um assunto que já foi muitas vezes à reunião de
Direcção, mas sem resultados ainda positivos, porque tem havido avanços e
recuos nos contactos que temos feito. Roma e Pavia não se fizeram num dia, como
diz o povo, e por isso não podemos desistir deste nosso objectivo que é
disponibilizar a Biblioteca aos leitores e à comunidade.
©Fernando Neto
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