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sexta-feira, 31 de maio de 2013

álbum de memórias -Agosto de 2004




AS  ALCUNHAS  DA  GENTE...

Do Dicionário:  ALCUNHA – s.f. epíteto dado a alguém e geralmente derivado de certa particularidade física ou moral.
Terras há, no nosso país, onde as pessoas são conhecidas unicamente pelas alcunhas.  No nosso burgo não é bem assim, mas que há muitas alcunhas, lá isso há...
Algumas delas perdem-se no tempo e é difícil determinar a sua origem.  Outras vão “resistindo” e passam de geração em geração.  Outras houve que “morreram” com a pessoa – e estas recordamo-las com respeito e, na generalidade, com saudade.
São muitas as razões que levam as pessoas a “criar” alcunhas.  Desde logo, as que se relacionam com a actividade de cada um: o Agulheiro, o Azeiteiro, o Cantineiro, o Engenheiro, o Ferrador, o Ferro Velho, o Latoeiro, o Médico, o Motelinho, o Padeiro, o Pica Lameiros, o Passaleiro, a Sapateira, o Tanoeiro, o Taqueiro, o Vaqueiro e, claro, o Toino das Bombas...
Se as pessoas são a “atirar para o baixo” surgem alcunhas tipo Feijão Miúdo, (João ou José) Pequeno, Meroiças, Milheiriça, Míscaro, Meio Quilo, Pataco, Peleguinha, Rasteiro ou Sete Oitavos.  Se são altos...  Longo, Longuinho, Beira Alta, Pistolão...
Uma anomalia física pode originar uma alcunha:  Espreita Aviões, Mijadito, Mola Partida, Mouco, Parafuso, Pé-de-Anjo, Pernica, Peitaças, Patinhas, Sacoto, Sobe-e-Desce, Sem Pescoço...
Consoante a “cor”, uma pessoa pode ser Amarelo ou Preto.  Mas a cor pode ser só em certo sítio e ter Colhão Branco...
Se fala muito, pode muito bem ser uma Emissora;  mas também pode ser Gago.  É tudo uma questão de Lérias...
Se o pelo abunda... Barbado, Cabeludo;  se falta o pelo: Careca, Mona Lisa, Pelada, Sem Barba...
Se a pessoa é anafadinha, Barrigas, Buchinha, Blastruque, Labumba, Matungo;  se é magro, Fininho, Linhas, Rói Vides...
Algumas alcunhas surgiram por causa dos instrumentos que o visado tocava: Bombo, Bombito, Cavaquinho, Sirenes.  O Pianinho era Mineiro.  Mas o maior da banda foi, sem dúvida, o mestre Xíxaro.
Alcunhas há que abrem o apetite: Batata, Bacalhau, Bifinho, Chouriças, Choco, Carapau, Enguias, Morcelas, Papo Seco, Pepino, Treplo.  Covém temperar com... Vinagre.  Para sobremesa: Banana, Melão, Maçã-Galega. Para trincar basta ter Dentinho ou mesmo Dente d’Oiro.  Claro que a refeição tem de ser bem regada: um Chinguinho, um Pucarinho, um Pirolito ou um Schwips...  O Garrafão não pode ter Sarro, nem Borras.  Para fechar pode ser com Ginja...
Papa-merendas ou merendeiro que se preze gosta de Borgas e de Rambóia.  Não é Pestinheiro e pode dizer-se que Come-e-Ri.  Quem, nos nossos tempos de criança, nos fazia rir era o Anhuc.
Mas há, também, alcunhas que, de alguma forma, têm a ver com a origem dos titulares: o Açoriano, o Africanista, o Brasileiro, o Espanhol, o Francês, o Norte América e, até, o Portugal.  Outras têm “ares” nobres: o Barão, a Condessa e o Lorde.  Outras são mais... políticas: Tchombé e República.
Os animais também inspiram muitas alcunhas: Bichas, Cheval, Furão, Formigas, Grila, Gato, Mata-Gatos, Mocho, Macaca, Pata de Galinha, Pelicanos, Rato e Ratito.  O desporto é outro meio gerador de epítetos, quer pelo amor clubista  -  Benfiquista  - quer por semelhanças físicas ou técnicas com alguns praticantes, a saber: Bimbarek, Lato, Mokuna, Manhiça, Perrichon, Pepe, Rachão, Simoni, Seminário, Vicente e Yazalde.
Do cinema e do teatro não temos muitas, mas há algumas: Bonanza, Dillinger, Jimmy, Piruças, Robin, Tó-Tó, Tim-Tim.  As telenovelas também têm dado um bom contributo: Aldonza, Giló, Natalício, Tititá, Tancinha, Tonicão, Zana e Zeca Diabo.
Às vezes, os “erros de pronúncia” também valem alcunhas: Dixe-dixe, Catapilho, Intrépece, Iu, Peliche.
Que se saiba, da tropa vieram duas: Furriel e Legionário.  O Capitão assim ficou por o ser na equipa do Desportivo.
Conforme o estado de espírito mais freqüente, o homem pode ser Calmiças ou Nervoso.
O tempo também pode proporcionar uma alcunha: Inverno, Trovoadas...
Sem querer ser Malcriado lembro que sem Pilas ou Piçalho não há Píveas ou Punhetas.
Há, de facto, muitas alcunhas, na nossa terra.  Engraçado seria, talvez, ir às raízes e saber das verdadeiras razões que as originaram.  É um desafio que lanço aos leitores que queiram colaborar.  Por isso...  Cá-te-Espero!
Ah!  Penso que não tenho nenhuma alcunha...  AMEF são as iniciais do meu nome.  Mas sou filho do... Boticas! 
©António Figueiredo (amef)        

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