AS ALCUNHAS
DA GENTE...
Do Dicionário: ALCUNHA – s.f. epíteto dado a alguém e
geralmente derivado de certa particularidade física ou moral.
Terras há, no nosso país, onde as
pessoas são conhecidas unicamente pelas alcunhas. No nosso burgo não é bem assim, mas que há
muitas alcunhas, lá isso há...
Algumas delas perdem-se no tempo
e é difícil determinar a sua origem.
Outras vão “resistindo” e passam de geração em geração. Outras houve que “morreram” com a pessoa – e
estas recordamo-las com respeito e, na generalidade, com saudade.
São muitas as razões que levam as
pessoas a “criar” alcunhas. Desde logo,
as que se relacionam com a actividade de cada um: o Agulheiro, o Azeiteiro, o
Cantineiro, o Engenheiro, o Ferrador, o Ferro Velho, o Latoeiro, o Médico, o
Motelinho, o Padeiro, o Pica Lameiros, o Passaleiro, a Sapateira, o Tanoeiro, o
Taqueiro, o Vaqueiro e, claro, o Toino das Bombas...
Se as pessoas são a “atirar para
o baixo” surgem alcunhas tipo Feijão Miúdo, (João ou José) Pequeno, Meroiças,
Milheiriça, Míscaro, Meio Quilo, Pataco, Peleguinha, Rasteiro ou Sete
Oitavos. Se são altos... Longo, Longuinho, Beira Alta, Pistolão...
Uma anomalia física pode originar
uma alcunha: Espreita Aviões, Mijadito,
Mola Partida, Mouco, Parafuso, Pé-de-Anjo, Pernica, Peitaças, Patinhas, Sacoto,
Sobe-e-Desce, Sem Pescoço...
Consoante a “cor”, uma pessoa
pode ser Amarelo ou Preto. Mas a cor
pode ser só em certo sítio e ter Colhão Branco...
Se fala muito, pode muito bem ser
uma Emissora; mas também pode ser
Gago. É tudo uma questão de Lérias...
Se o pelo abunda... Barbado,
Cabeludo; se falta o pelo: Careca, Mona
Lisa, Pelada, Sem Barba...
Se a pessoa é anafadinha,
Barrigas, Buchinha, Blastruque, Labumba, Matungo; se é magro, Fininho, Linhas, Rói Vides...
Algumas alcunhas surgiram por
causa dos instrumentos que o visado tocava: Bombo, Bombito, Cavaquinho,
Sirenes. O Pianinho era Mineiro. Mas o maior da banda foi, sem dúvida, o
mestre Xíxaro.
Alcunhas há que abrem o apetite:
Batata, Bacalhau, Bifinho, Chouriças, Choco, Carapau, Enguias, Morcelas, Papo
Seco, Pepino, Treplo. Covém temperar
com... Vinagre. Para sobremesa: Banana,
Melão, Maçã-Galega. Para trincar basta ter Dentinho ou mesmo Dente d’Oiro. Claro que a refeição tem de ser bem regada:
um Chinguinho, um Pucarinho, um Pirolito ou um Schwips... O Garrafão não pode ter Sarro, nem
Borras. Para fechar pode ser com
Ginja...
Papa-merendas ou merendeiro que
se preze gosta de Borgas e de Rambóia.
Não é Pestinheiro e pode dizer-se que Come-e-Ri. Quem, nos nossos tempos de criança, nos fazia
rir era o Anhuc.
Mas há, também, alcunhas que, de
alguma forma, têm a ver com a origem dos titulares: o Açoriano, o Africanista,
o Brasileiro, o Espanhol, o Francês, o Norte América e, até, o Portugal. Outras têm “ares” nobres: o Barão, a Condessa
e o Lorde. Outras são mais... políticas:
Tchombé e República.
Os animais também inspiram muitas
alcunhas: Bichas, Cheval, Furão, Formigas, Grila, Gato, Mata-Gatos, Mocho,
Macaca, Pata de Galinha, Pelicanos, Rato e Ratito. O desporto é outro meio gerador de epítetos,
quer pelo amor clubista - Benfiquista
- quer por semelhanças físicas ou técnicas com alguns praticantes, a
saber: Bimbarek, Lato, Mokuna, Manhiça, Perrichon, Pepe, Rachão, Simoni,
Seminário, Vicente e Yazalde.
Do cinema e do teatro não temos
muitas, mas há algumas: Bonanza, Dillinger, Jimmy, Piruças, Robin, Tó-Tó,
Tim-Tim. As telenovelas também têm dado
um bom contributo: Aldonza, Giló, Natalício, Tititá, Tancinha, Tonicão, Zana e
Zeca Diabo.
Às vezes, os “erros de pronúncia”
também valem alcunhas: Dixe-dixe, Catapilho, Intrépece, Iu, Peliche.
Que se saiba, da tropa vieram
duas: Furriel e Legionário. O Capitão
assim ficou por o ser na equipa do Desportivo.
Conforme o estado de espírito
mais freqüente, o homem pode ser Calmiças ou Nervoso.
O tempo também pode proporcionar
uma alcunha: Inverno, Trovoadas...
Sem querer ser Malcriado lembro
que sem Pilas ou Piçalho não há Píveas ou Punhetas.
Há, de facto, muitas alcunhas, na
nossa terra. Engraçado seria, talvez, ir
às raízes e saber das verdadeiras razões que as originaram. É um desafio que lanço aos leitores que
queiram colaborar. Por isso... Cá-te-Espero!
Ah! Penso que não tenho nenhuma alcunha... AMEF são as iniciais do meu nome. Mas sou filho do... Boticas!
©António Figueiredo (amef)
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